A manhã daquele domingo começou com a rotina costumeira. Arrumar os equipamentos.
Confeccionar as sandes para o lanche. Preparar o chá para o intervalo do jogo. Conferir as
toalhas, as ligaduras e as meias de enchimento. Engraxar as botas. Verificar a mala com o
material médico. Enfiar meia dúzia de bolas no saco respectivo. E, por fim, acondicionar todo o
material no porão da bagageira da velhinha camioneta Toyota do município. O staff do Futebol
Clube Mogadourense iniciava assim os preparativos para mais uma deslocação quinzenal ao
campo de um dos adversários da série B da terceira divisão nacional.
Os jogadores, técnicos e directores foram chegando e rumando aos seus lugares habituais.
Quando o autocarro começasse a rodar, o nervoso miudinho apoderava-se da maioria e o
silêncio imperava. A ressaca dos finos emborcados no “Montanha”, ou a fadiga causada pela
véspera noctívaga passada na discoteca, haveriam de fazer encostar algumas cabeças ao vidro
lateral.
Treinador e director seguiam à cabeça do pelotão. Conversa de circunstância, para fazer
tempo até ao arranque:“Então, mister, qual vai ser a táctica de hoje?”
Resposta automática:
“A do costume. O quatro, três, três.”
O dirigente, que se estreava naquelas andanças e não era muito versado em matéria
futebolística, após pequena pausa de reflexão, virou-se para o outro e, com um ar muito
admirado, indagou:
“Bô! Atão só vais jogar com dez?”
Fonte: (“O Alferes Maçarico e outras histórias” – Antero Neto, Editora Lema d’Origem)