Paisagem

Paisagem

A relação entre pessoas e a natureza.

Mogadouro

Valor gerado na relação entre as pessoas e a natureza e entre as próprias pessoas. 

Mogadouro é um concelho que reúne o melhor de dois mundos, o Mundo Natural  combinado com o Mundo Cultural para juntos gerarem o sustento e riqueza da região. Riqueza que, num olhar mais desatento,  poderá passar despercebida, mas que quando trazida à consciência e à experiência é capaz de despertar sensações adormecidas na memória de quem as vive ou ouviu.

Com uma mão no rio Douro e a outra no rio Sabor, o concelho Mogadouro arregaça o Planalto Mirandês para formar o mosaico paisagístico característico do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) e dos Lagos do Sabor , ambos inseridos na rede europeia de áreas ecológicas protegidas, a Rede Natura 2000.

É esta paisagem seminatural transfronteiriça estendida, do lado de cá, ao Nordeste transmontano e, do lado de lá, às províncias espanholas de Zamora e Salamanca, que levou a UNESCO a reconhecer-nos com um território seu, através da Reserva da biosfera transfronteiriça da meseta ibérica.

Todo o valor somado destas duas marcas-chapéus (PNDI e Reserva da Biosfera) é um ativo valioso e invejável. Instrumentos de valorização de destinos turísticos que marcam pela diferença  e concentram um  potencial de desenvolvimento local.

Mundo

Mogadouro, um concelho biodiverso

Natural

Mogadouro situa-se na orla do maciço de Morais, onde ocorrem testemunhos de antigos dos fundos oceânicos que foram trazidos à superfície pelas forças do interior da Terra, que ocorriam nesta região durante o Paleozoico. 

A variedade de rochas associada a afloramentos graníticos e xísticos, sobretudo, é notável. Uma riqueza mineralógica que, no passado, sustentou uma tradição mineira, que remonta aos tempos romanos e cujos últimos episódios estão marcados pela corrida ao volfrâmio durante a II Guerra Mundial. São estas características geológicas que favorecem, também, a flora típica da região, que combinada numa diversidade de habitats proporcionam a ocorrência de uma vasta gama de fauna e flora  emblemática.

A atividade agropecuária do conselho de Mogadouro é fundamental para a beleza deste mosaico paisagístico. A cultura extensiva de cereal cria uma paisagem estepária, importante para muita desta avifauna ameaçada que nidificas nos vales escarpados dos rios Douro e Sabor. Todas estas características mais a diversidade de habitats criados pelos lameiros, vinhedos, olivais, amendoais, etc., tornam  Mogadouro, um concelho biodiverso, nos diferentes grupos de animais (Aves, Mamíferos, Répteis, Anfíbios, Peixes, invertebrados) e plantas.

Flora

A diversidade de biótopos resulta das variações de clima, relevo, geologia e outros aspetos históricos. 

As margens escarpadas dos rios Douro e  Sabor revestem-se de bosques endémicos de zimbro, dominados, maioritariamente, por zimbros (Juniperus oxycedrus) e por azinheiras (Quercus rotundifólia).

O planalto combina-se entre  locais mais temperados com carvalhais de carvalho-negral (Quercus pyrenaica) e  zonas marcadamente mediterrânicas, de azinhais e sobreirais (Quercus suber) com zimbros (Juniperus oxycedrus).

Neste riquíssimo património natural podemos ainda encontrar bosques de lódão-bastardo (Celtis australis) nas encostas mais húmidas do Douro, uma das madeiras preferidas para fazer alfaias agrícolas por se tratar de uma madeira muito rija.

Fauna

Aves

A avifauna é o grupo mais emblemático, pela elevada diversidade e ocorrência de espécies ameaçadas e pela  significativa  população nidificantes a nível nacional e ibérico que concentram.

Considerando os 4 grupos principais de avifauna, nomeadamente as aves rupícolas, as florestais, as estepárias, as aquáticas, as aves rupícolas (i.e. de zonas rochosas) são as mais emblemáticas deste território, concentrando-se aqui uma grande percentagem dos efetivos nacionais de algumas das espécies mais ameaçadas, tais como a/o:

  • cegonha-preta (Ciconia nigra),
  • abutre do Egito (Neophron percnopterus),
  • águia-real (Aquila chrysaetos),
  • águia de Bonelli (Aquila fasciata),
  • falcão-peregrino (Falco peregrinus),
  • gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax)
  • chasco-preto (Oenanthe leucura)
  • bufo-real (Bubo bubo), a maior ave de rapina noturna da Europa,
  • grifo (Gyps fulvus)
  • andorinhão-real (Apus melba).

Já dentro das  aves florestais destaca-se a presença do:

  • milhafre-real (Milvus milvus),
  • açor (Accipiter gentilis),
  • milhafre-preto (Milvus migrans),
  • felosa-de-bonelli (Phylloscopus bonelli) e o
  • mocho-de-orelhas (Otus scops)

Fauna

Mamíferos

O habitat formado por lameiros rodeados por sebes arbóreas, terrenos de cereal, vinhedos, etc., que caracteriza a zona do planalto, constitui um local de refúgio para numerosas espécies de mamíferos das quais se destacam:

  • Lobo (Canis lupus)
  • corço (Capreolus capreolus),
  • gato-bravo (Felis silvestres),
  • rato de Cabrera (Microtus cabrerae) e o
  • javali (Sus scrofa).

Existem importantes colónias de morcegos cavernícolas. Destaca-se o morcego-de-ferradura-mediterrânico (Rhinolophus euryale) e o morcego-rato-pequeno (Myothis blythii) estão Criticamente Em Perigo.

Fauna

Peixes

Destaca-se a

  • panjorca (Chondrostoma arcasii) – em Perigo;
  • barbo-comum (Barbus bocagei),
  • boga-do-norte (Chondrostoma duriense) e o
  • escalo-do-norte (Squalius carolitertii)

Mundo

Mogadouro, uma herança e um legado com identidade

Cultural

O Mundo Natural é amplamente enriquecido pelo Mundo Cultural, por todos aqueles elementos que resultaram da ocupação humana até aos nossos dias, como os campos cultivados, parcelados por sebes de freixos e carvalhos, das culturas em socalcos nas zonas de arribas, das construções tradicionais, como as “cortes” dos animais e os pombais. Esta harmonia espelha bem o quanto a biodiversidade local depende da atividade humana. Na verdade, são um só mundo. O Homem também é elemento do ecossistema e o próprio declínio da biodiversidade deve-se sobretudo ao êxodo rural e, consequente, ao abandono da atividade agropecuária tradicional. 

Neste mundo cultural também cabe o conhecimento, a arte, as crenças e lendas, a história e as estórias de lugares e pessoas, isto é, toda e qualquer forma de criação humana, por isso as raças e variedades autóctones, as culturas agrícolas, a gastronomia, o artesanato, etc… também aqui têm lugar.

Em suma, o património cultural reúne a herança dos nossos antepassados no legado para os nossos filhos. Cuidar e acrescentar-lhe valor deve ser uma missão em cada mogadourense, esteja ele onde estiver.

O topónimo

Durante muito tempo afirmou-se que o topónimo Mogadouro tinha origem no árabe “Macaduron”. Porém, e tal como escreve Maria Alegria Fernandes Marques, na obra “Mogadouro: forais, concelhos e senhores (séculos XII a XVI)”, pp. 24-25, “houve já quem propusesse que o nome “Mogadouro” teria a sua origem no árabe “mocaduron”, com o significado de coisa fatal, inevitável. Hoje, porém, é hipótese sem interesse.” De facto, desde Leite de Vasconcellos até uma extensa miríade de autores e estudiosos, nacionais e internacionais, já ninguém coloca sequer essa hipótese. A suposta radicação arabesca do topónimo é hoje em dia produto de fantasia completamente descabida. O radical “muga”, no sentido de “marco”, “limite” ou “fronteira” é indiscutível entre os investigadores. Quanto à segunda partícula, não existem versões coincidentes, havendo quem avente a hipótese “Douro”. Todavia, igualmente sem qualquer sentido. Amadeu Ferreira, em trabalho publicado na revista “Brigantia”, advoga aquela que é a tese melhor elaborada sobre o tema até ao presente, pugnando pela origem etimológica na expressão “Muga Gothorum”, ou seja, a “Fronteira (ou limite) dos Godos”

[1] Cfr. FERREIRA, Amadeu, “O nome Mogadouro: Estudo sobre o topónimo e o limes entres os reinos Suevo e Visigodo entre os anos 484 e 570”, revista Brigantia, Ano 2010-2011, n.º XXX-XXXI, pp. 103-129.

Ocupação humana

A ocupação humana no concelho de Mogadouro é imemorial atestada pelos vestígios deixados pelas populações nas diferentes épocas da história – a arte rupestre, os povoados fortificados, os castros, os sítios romanos e medievais, as igrejas, etc…

História

Os “tenentes” de Mogadouro

Tradições e património

Na história da vila cruzam-se a linhagem dos Braganções, a Ordem do Templo, os monarcas portugueses, a Ordem de Cristo e os Távora. Localizado no Leste transmontano, o concelho de Mogadouro inscreve-se num território que constituía, desde meados do século XI, o centro tradicional do domínio da importante linhagem dos Bragançãos.

Os mais antigos diplomas dizendo diretamente respeito a Mogadouro e ao seu castelo reportam-se já a uma fase avançada das últimas décadas do século XII, num momento em que a fortaleza roqueira se encontrava sob a tutela da Ordem do Templo. Mogadouro foi doado aos templários por Fernão Mendes de Bragança quando este detinha a tenência da terra. A primeira fase do domínio desta ordem guerreira em Mogadouro prolonga-se até 1197, altura em que Sancho I veio recuperar das mãos da milícia os castelos de Mogadouro e Penas Róias. Mogadouro haveria de regressar à posse dos templários ainda por obra e graça de D. Sancho I.

Ao aproximar-se o início do último quartel do século XIII a acção de Afonso III, monarca que demonstra uma política ativa de afirmação do poder régio em Trás-os-Montes através da concessão de forais às comunidades daquela região e da reorganização territorial dos espaços fronteiriços, irá desencadear um conflito direto com os templários aos quais disputa a legitimidade da posse dos castelos de Mogadouro e de Penas Róias.

Com a extinção da Ordem do Templo e sua substituição pela Ordem de Cristo, Mogadouro haveria de pertencer a esta última, antes de passar para as mãos da família Távora.

Os forais e as cartas de foro

Os forais eram instrumentos normativos que serviam para delinear os contornos jurídico-administrativos de uma certa circunscrição, ficando toda a orgânica e dinâmica da comunidade a reger-se pelas regras ali definidas. O poder régio atribuiu, pela pena de D. Afonso III, em 27 de dezembro de 1272, um primeiro foral a Mogadouro e Penas Róias, seguindo o modelo de Zamora, e assim recuperando, simultaneamente, estas fortalezas para a posse da Coroa. O mesmo monarca haveria de outorgar novo foral à vila e concelho de Mogadouro em 18 de novembro de 1273. Posteriormente, D. Dinis renovou-o (em 1297) e D. Manuel I (em 1512) concedeu-lhes foral novo.

Além destes, D. Dinis concedeu foral às vilas de Bemposta (1315) e Castro Vicente (1305), criando assim os respetivos concelhos. Ambos foram posteriormente renovados por D. Manuel I, em 1512. O rei D. João I outorgou foral ao Azinhoso em 1386, vindo o mesmo a ser renovado pelo punho de D. Manuel I em 1520.

As aldeias de Sanhoane (1260), Paradela (1253) e Santo André (1274) tiveram cartas de foro atribuídas a grupos de moradores para ali se estabelecerem com as suas famílias.

Atividades humanas

Em 1272, o rei D. Afonso III concedeu aos povoadores de Mogadouro carta para fazerem mercado semanal. Mais tarde, em data incerta, mas anterior a 17 de setembro de 1295, o rei D. Dinis viria a instituir a feira mensal. No século XVIII há notícia de duas grandes feiras anuais na vila: uma em setembro e outra em outubro (ambas com a duração de três dias). Atualmente persistem feiras quinzenais (a 2 e 16 de cada mês, exceto se calhar em domingo, passando para a segunda-feira seguinte) e a anual do mês de outubro.

O Azinhoso também tinha a sua imponente feira anual, de que há notícia desde o tempo de D. Dinis, realizada em 8 de setembro (foi recentemente recuperada e é conhecida pela “Feira dos Burros”, com significativo certame dedicado a esta espécie pecuária).

A Feira dos Gorazes (feira anual, que hoje se realiza a 15 e 16 de outubro), afirmou-se historicamente como um dos principais certames mercantis da região transmontana, perdurando até à atualidade nessa condição. A sua importância encontra-se espelhada no facto de o feriado municipal de Mogadouro ser respeitado a 15 de outubro.

A família Távora e o seu legado patrimonial

Por carta datada de 21 de outubro de 1401, D. João I faz a Pero Lourenço de Távora “doaçam em quãto sua mercee for de todos os direitos foros, rendas tributos que o dito Senhor ha no Mogadouro”, reconhecendo os valiosos serviços prestados por aquele fidalgo que acompanhou o Mestre de Avis em Aljubarrota. Esta família deteve o senhorio de Mogadouro até à sua queda, ocorrida em 1759, às mãos do Marquês de Pombal, no conhecido processo que D. José I lhe moveu. Esta estirpe transformou o medievo castelo roqueiro em residência, dotando-o de conforto e estrutura que levaram os invasores espanhóis em 1762 a designá-lo por “palácio a que chamam castelo”.

Ao seu domínio de três séculos, ficam a dever-se várias estruturas edificadas que perduram na paisagem mogadourense, nomeadamente o Convento de S. Francisco, a igreja da Misericórdia de Mogadouro, a ponte de Remondes, sobre o rio Sabor (1678); a ponte de Meirinhos (1677); a ligação de Mogadouro a Castelo Branco (Século XVII); o pontão de Zava (finais do século XVII); a ponte de Vilarinho dos Galegos (século XVII) e a ponte Gamona em S. Martinho do Peso (século XVII), bem como a casa das colunas, sita no Largo do Conde Ferreira. Ressalta ainda à vista uma bela e imponente porta de acesso à Quinta de Nogueira, tal como o singular Monóptero de S. Gonçalo (Quinta Nova).

Património edificado do concelho

Além das já mencionadas, destacam-se ainda no património histórico edificado no concelho de Mogadouro, as seguintes construções: o “Solar dos Pimentéis”, em Castelo Branco (edifício de traça barroca, a que está associada a lenda de que tem tantas portas e janelas como dias tem o ano), a “casa grande”, de Tó, o castelo de Mogadouro, o castelo de Penas Róias, a muralha medieval de Bemposta, a igreja medieval de Algosinho e a igreja medieval de Azinhoso, a igreja medieval de Ventozelo, a igreja medieval de Vila dos Sinos, a igreja matriz de Mogadouro, o nicho de S. Sebastião, em Mogadouro, a ponte medieval de Macedo do Peso, a ponte medieval de Azinhoso, a ponte medieval de Valcerto e o belíssimo e singular conjunto de arte sacra que alberga a Capela do Senhor da Boa Morte, em Ventozelo.

Fontes de mergulho

As fontes de mergulho, que outrora foram fundamentais na vida das nossas aldeias, foram desativadas em pleno século XX por razões sanitárias, tendo o abastecimento de água às populações passado a ser feito através de redes públicas devidamente canalizadas. Mas, as fontes permanecem como marcos arquitetónicos incontornáveis na paisagem rural. O concelho de Mogadouro conservou muitos desses pequenos monumentos que embelezam as suas praças, ruas e caminhos rurais, nomeadamente em Bemposta, Castro Vicente, Ventozelo, Vilarinho dos Galegos, Figueira, Azinhoso, Figueirinha, Vilar do Rei, Valverde, Vila de Ala, Vidoedo, Castelo Branco, Penas Róias e Variz.

Os pelourinhos

Símbolos do poder régio medieval, eretos na praça central das povoações, os pelourinhos atribuíam importância administrativa às sedes concelhias, conferindo-lhe relevância e significado no âmbito local e regional. No concelho de Mogadouro conservaram-se intactos os pelourinhos de Mogadouro, Azinhoso, Bemposta e Castro Vicente. O pelourinho de Penas Róias foi destruído na onda de vandalismo que durante o séc. XIX assolou os símbolos do passado. Entretanto, já em pleno séc. XXI, foi ali erigida uma réplica.

Castros, gravuras rupestres e outros vestígios arqueológicos

O território mogadourense encontra-se repleto de vestígios arqueológicos que atestam a antiguidade da ocupação humana. As “mamoas” (monumentos funerários) de Sanhoane e Tó datam do IV milénio a.C..

As orlas dos rios Douro e Sabor são ricas em vestígios de pequenas povoações fortificadas da Idade do Ferro, popularmente designados por “castros” ou “castelos”. Existem ruínas identificadas em muitas aldeias, nomeadamente em Bruçó, Vilarinho dos Galegos, Peredo da Bemposta, Sampaio, Azinhoso, Castelo Branco, Meirinhos, Quintas das Quebradas, Urrós, Bemposta, Algosinho, Valcerto, Valverde, Zava e Santiago.

E quanto a arte rupestre, podemos encontrar manifestações dela na chamada “Fraga da Letra”, em Penas Róias, em Meirinhos, na “Fonte de Prado Rodela”, na “Pena Abonida”, em Bruçó, na ribeira do Porto, em Tó, na “Fraga do Diabo”, em Vila dos Sinos, no “castelo”, em Travanca, entre outros sítios não inventariados.

Também existem algumas estátuas zoomorfas, de assinalável antiguidade (Idade do Ferro), nomeadamente os berrões encontrados em Mogadouro, em Vila dos Sinos e em Saldanha e ainda o cavalo achado na freguesia de Castro Vicente.

Existem algumas estelas funerárias da época da ocupação romana um pouco por todo o concelho. Merecem destaque as que se encontram nas paredes de alguns templos, nomeadamente na capela de Santa Marinha, em Saldanha e na igreja de Penas Róias.

A “Sala Museu de Arqueologia” de Mogadouro alberga importante espólio arqueológico do concelho, que ali pode ser observado.

Bodegas

As bodegas são pequenas estruturas subterrâneas, compostas por uma, duas ou três câmaras, que serviram para armazenar vinho e outros géneros alimentícios. A aldeia de Urrós alberga na orla do seu casco urbano um importante conjunto destas cavidades, tendo algumas delas sido alvo de recuperação recente por parte dos proprietários. Em Travanca também podemos encontrar alguns exemplares, mas em estado de ruína.

Lagares rupestres

Desconhece-se a sua origem cronológica, que poderá remontar à época da ocupação romana. Normalmente, situam-se nas encostas, distantes dos núcleos urbanos e serviam para esmagar as uvas no local da sua produção, pois era mais fácil transportar o líquido que os frutos. No concelho de Mogadouro estão localizados e identificados quatro: dois no termo de Urrós, um em Tó e outro em Algosinho.

Património

Imaterial

Além da história e da arqueologia, o concelho de Mogadouro é ainda rico em tradições arcanas, nomeadamente em festas de solstício de Inverno, sendo, provavelmente, o mais prolífero nesta matéria em Portugal e, seguramente, um dos mais importantes na Península Ibérica. Apesar do desaparecimento de alguns, ainda se mantêm vivos os seguintes rituais com máscaras:

Festa dos Velhos, em Bruçó (dia 25 de dezembro);

Festa do Chocalheiro, em Vale de Porco (dia 25 de dezembro);

Festa do Chocalheiro de Bemposta (dia 26 de dezembro e dia 1 de janeiro);

Festa do Farandulo, em Tó (dia 1 de janeiro);

Careto de Valverde (25 de dezembro);

Mascarão e Mascarinha, em Vilarinho dos Galegos (06 de janeiro).

Todas estas manifestações se enquadram nos rituais com máscaras do Inverno transmontano, sendo extremamente complexas em simbolismo e beleza, atraindo anualmente estudiosos, curiosos e naturais da terra que as revivem ciclicamente.[2]

[2] Cfr. NETO, Antero, “Rituais com Máscara – Mogadouro”, editado pela “Progestur”, 2015.

A cultura criptojudaica

Em Mogadouro existiu uma significativa comunidade judaica, que foi alvo da impiedosa máquina inquisitorial. A especialista Maria José Pimenta Ferro Tavares menciona nos seus diversos estudos a existência de uma importante comuna judaica na vila de Mogadouro já no século XIV (a par das comunas judaicas de Bemposta e Azinhoso). A aldeia de Vilarinho dos Galegos conservou até há bem pouco tempo uma forte comunidade criptojudaica, que se foi diluindo devido à sangria demográfica, não obstante ter preservado no tempo tradições e costumes de que ficou registo. Existem no concelho significativas marcas arquitetónicas judaicas que atestam a importância e dimensão da comunidade hebraica nestas paragens.[1]

[1] Cfr. NETO, Antero, “Marcas Arquitectónicas Judaicas e Vítimas da Inquisição no Concelho de Mogadouro – D. Luis Carvajal y de La Cueva”, editora “Lema d’Origem”, 2013.

Figuras ilustres da terra

A figura maior do espectro cultural local foi o escritor Trindade Coelho (1861-1908), autor de “Os Meus Amores”, considerado por alguns como o verdadeiro “mestre do conto rústico”. Contista, jurista, jornalista e educador do povo, deixou lastro cultural suficiente para ser eternamente recordado pelos vindouros. Além dele, merecem igualmente destaque as figuras de D. Luís Carvajal y de La Cueva (1539-1591), que foi governador da província espanhola Nuevo Reino de León, no México; o Coronel Albino Pereira Lopo (1860-1933), militar e arqueólogo, criador do Museu Abade de Baçal e António Pinto Pereira (séc. XVI), escritor e secretário de D. António Prior do Crato.

Música

A região de Mogadouro é rica em tradição musical, um pouco à semelhança de todo o nordeste transmontano. Existem algumas recolhas de cancioneiro, sendo a mais extensa a do Padre Nogueira Afonso, que a compilou em livro. No panorama mais recente sobressaem os grupos de pauliteiros, ranchos folclóricos, bandas de música e grupos de gaiteiros.

O toque da gaita de fole tem grande tradição no concelho de Mogadouro, com referências de excelência, como o Manuel Sampedro (de Travanca) e Zé Maria Fernandes (de Urrós).

A notícia escrita mais antiga que se tem do manejo deste instrumento nas terras de Mogadouro e arredores provém do início do séc. XVII, quando o chantre da Sé de Évora, Manuel Severim de Faria, visitou Miranda do Douro. 

Durante o seu itinerário, pernoitou na aldeia mogadourense de Vila de Ala, onde foi obsequiado com um espectáculo musical ao som da gaita de fole que manusearam com “gentil arte e destreza.

Festas religiosas

As festividades em honra de N.ª Sra. do Caminho, realizadas tradicionalmente no último domingo de agosto são aquelas que concitam maiores atenções e reúnem maior fulgor, afirmando-se como o principal evento festivo do concelho e um dos maiores das redondezas.

A par desta, a festa de Santa Ana, organizada pelos jovens solteiros da vila no primeiro domingo de julho, também assume particular relevo no calendário festivo local.

A Procissão do “Divino Senhor dos Passos”, que tem lugar no domingo de Ramos, a cada dois anos, ocupa igualmente lugar de destaque nas celebrações litúrgicas do concelho.

Gastronomia

No panorama gastronómico, o concelho de Mogadouro distingue-se pela excelência da carne bovina, merecendo natural destaque a “posta de vitela”, associada à “raça mirandesa”. Além, deste prato, o concelho prima igualmente pela qualidade do seu fumeiro, herdeiro de tradição ancestral. Merece ainda relevo o “cozido transmontano”, confecionado com casulas e bulho, bem como os cogumelos, em que a região é extremamente rica, a par de outros pratos menos divulgados, mas profundamente enraizados nos usos e costumes locais, como sejam as “sopas da segada”, as “sopas de xis” e os pratos à base de caça.

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