Um destes dias, em amena cavaqueira, o meu amigo Dário Pombo, de Castelo Branco, contou-
me um pequeno episódio que o envolveu a ele e à gente da minha terra, Bruçó.
Corria o ano de 1977 e ele tinha regressado de um período de emigração em terras teutónicas.
Como é apreciador de um bom faduncho, resolveu fazer uma visita ao amigo Virgílio Pinto que
nesse tempo residia em Bruçó, após retorno de África.
Como não tinha viatura, pediu ajuda ao seu cunhado, Heitor Osório Pereira, conhecido
empresário da vila de Mogadouro. O falecido Heitor aproveitou a oportunidade para levar
material de propaganda do MDP/CDE a dois irmãos de Bruçó, que o amigo Dário não me soube
identificar. O pior foi que, quando ali chegaram, não só o Virgílio estava adoentado, como
rapidamente se espalhou a notícia de que os comunistas andavam pela aldeia. E aí é que foram
elas!
O sino tocou a rebate e quando ti Dário saiu do pequeno café ao pé da igreja, já tinha à sua
espera uma pequena multidão composta por mulheres e rapazolas, devidamente armada com
espalhadouras, calagouças e afins. Bem tentou explicar à populaça enfurecida que não tinha
nada a ver com aquela marmelada. Que só vinha ali cantar uns fados. Mas, o povo não
arredava pé! O cunhado, no interior do café, ainda sacou da arma com que se fazia
acompanhar naqueles tempos turbulentos. Mas, ti Dário disse-lhe que era melhor guardá-la.
Lembrou-se então de ir pedir ajuda a outro amigo, o ti Elisário Valente (também já falecido),
que morava mesmo em frente. E foi este, que já estava na cama, que se levantou e conseguiu
acalmar a ira popular e lhes deu escolta até à saída da aldeia.
“Que aflitinho me vi, doutor!”
Imagino…
Fonte: (“O Alferes Maçarico e outras histórias” – Antero Neto, Editora Lema d’Origem)