A audiência de discussão e julgamento decorria nas instalações do tribunal judicial da comarca
de Miranda do Douro. Discutia-se uma questão de ofensas corporais simples. Depois de
tomadas as declarações ao arguido, começou a desfilar o rol de testemunhas. Com maior ou
menor pormenor, o quadro da contenda começava a desenhar-se com relativa nitidez. A
nitidez possível quando estão em causa amores e desamores. Velhos ódios que o tempo não
consegue apagar. Cada um tenta inclinar os pratos da balança a favor da sua versão.
O velhote entrou na sala com ar tímido. Chapéu nas mãos, cumprimentou com salamaleques o
tribunal. O escrivão conduziu-o ao seu lugar, em frente à cadeira onde se sentam as
testemunhas. A magistrada iniciou o interrogatório com as habituais perguntas acerca da
identificação pessoal do depoente. Terminado este, veio a solene e legal advertência de que a
testemunha estava obrigada a falar com verdade e que, caso não o fizesse, incorreria na
prática de um crime.
– “Percebeu?”
– “Sim”
– “Então, o senhor jura por sua honra dizer a verdade e só a verdade?”
O sujeito ganhou súbito ânimo e como quem se perfila perante a bandeira nacional ao som do
hino, fitou a juíza nos olhos e declarou com toda a solenidade que o momento exigia:
– “Juro pela minha honra, pela sua e pela de todos os presentes!”
Fonte: (“O Alferes Maçarico e outras histórias” – Antero Neto, Editora Lema d’Origem)