Determinado indivíduo teve um acidente de viação no antigo IP4, ali para os lados de Vila Real.
Chocou contra um canídeo e desfez a parte da frente da viatura. Resolveu demandar o
Instituto de Estradas de Portugal, que era, à data, o legal responsável pela manutenção e
ocorrências na referida via estradal. O julgamento fez-se no Tribunal Administrativo e Fiscal do
Porto, com um colectivo de juízes a orientar a sessão.
Entrou a testemunha arrolada pelo Autor, que, no seguimento da rotineira identificação
pessoal, declarou que era estudante do curso de engenharia civil na Universidade do Porto. Foi
declarando que seguia na mesma via e no mesmo sentido do sinistrado e que viu
perfeitamente o cão a surgir repentinamente na estrada, atravessando-se à frente do veículo.
Mais declarou que o condutor nada pôde fazer e que o choque foi inevitável.
Perante estas declarações, o causídico que representava o instituto estatal, manifestamente
desconfiado da veracidade das declarações da testemunha em questão, foi-lhe colocando
diversas perguntas, lançando aqui e ali uma “rasteira” para ver se o apanhava em contradição.
Contudo, o rapaz foi-se safando, não dando hipótese à tese do Advogado.
Já em desespero de causa, o jurista tentou uma última “tranquilha”:
– “A que distância concreta é que o senhor seguia da viatura do seu amigo?”
– “Não sei. Concretamente, não sei. Talvez duzentos metros, trezentos… não sei ao certo!”
– “Não sabe ao certo? Mas, então o senhor não declarou ao tribunal que é estudante de
engenharia civil? Um estudante de engenharia civil deve saber calcular com exactidão as
distâncias!”
Perante este ataque, pensei sinceramente que a testemunha ia escorregar. Puro engano. Fez
uma pausa, cruzou as pernas e disparou:
– “Ó senhor doutor, nem todos somos bons alunos!”
Fonte: (“O Alferes Maçarico e outras histórias” – Antero Neto, Editora Lema d’Origem)